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Quem passa pela Avenida João II, no bairro do Curió Utinga, não tem como ignorar a árvore de Natal de 8 metros de altura construída pela própria comunidade com mais de 25 mil garrafas pet, próximo da Avenida Dr. Freitas. “Aqui nesse local, onde decoramos, era um lixão a céu aberto. A área era sempre limpa, mas logo em seguida jogavam lixo”, conta o presidente do Movimento Habitar Belém (Mohab), Jairo Moura, um dos responsáveis pela ornamentação. Depois do trabalho, o problema acabou. “Aqui virou um ponto turístico até para quem não mora na área, que vem aqui para tirar fotos”, comemora.
Jairo conta ainda que a produção da árvore estimulou e valorizou a mão de obra dos moradores. “As artesãs do Curió também participaram da ornamentação. Elas ensinaram as pessoas da comunidade a fazer outros objetos, que estão sendo produzidos e vendidos, como é o caso das guirlandas. Também não podemos esquecer a questão ambiental. Com esse trabalho os moradores da área criaram uma consciência da importância de reciclar”, destaca o líder comunitário.
Todas as garrafas usadas na decoração foram doadas pelos próprios moradores do bairro que começaram a arrecadar, todo o material, ainda no mês de agosto. Com os objetos foi construída outra árvore de Natal, de pouco mais de um metro, e colocado um “boneco de neve”, doado pelo município de Marapanim, no nordeste paraense, também feito com garrafas pets.
A doméstica Sebastiana Gatinho é uma das moradoras da área que participou da confecção da árvore de Natal. Ela aprovou a iniciativa e está empolgada com o resultado. “Eu não sabia fazer nada de artesanato, mas mesmo assim me juntei com as artesãs. Lá eu aprendi a fazer vários enfeites, como bola, guirlanda e flor. É muito bom ver que nosso esforço valeu a pena. A partir de agora não vou mais jogar garrafa pet no lixo, pois sei que podemos fazer muitas coisas com elas”.
Os moradores do bairro de Canudos também enfeitaram a Rua Roso Danin e uma das árvores decoradas, foi criada com garrafa pet. A produção ficou por conta dos educadores e alunos do Centro de Alfabetização Infantil Escola CAI. “Na nossa escola trabalhamos a consciência ambiental e reciclagem com os alunos. Vários moradores trouxeram as garrafas e pudemos fazer a decoração. Ao todo, foram utilizadas mais de 800 pets, na árvore que tem 3,80 metros”, detalha a diretora da escola, Claudineia Reis Ferreira.
Ela destaca que é fundamental que a população tenha consciência da importância de reciclar. Na capital paraense, o trabalho de coleta seletiva vem sendo realizado pela Prefeitura de Belém em mais de 20 bairros, com sistema porta a porta e Locais de Entrega Voluntária (Levs). Entre as áreas atendidas estão Nazaré, Jurunas, Batista Campos, Cidade Velha e Sacramenta.
Com a coleta seletiva, cerca de 250 toneladas de materiais recicláveis são comercializadas por mês em Belém, conforme levantamento da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semma). O número poderia ser maior de acordo com a adesão da população.
“A Prefeitura de Belém está cada vez mais investindo na coleta seletiva, com a expansão dos pontos de entrega voluntária, criação do centro de triagem e trabalhos educativos. Agora, todo o processo só dará certo se a população tiver essa consciência de fazer a separação em sua residência. As garrafas pets, papelão, latas de refrigerante podem ser utilizadas para a reciclagem, que ainda ajudarão na fonte de renda de muitas pessoas”, ressalta o titular da Semma, Deryck Martins.
De acordo com dados da Secretaria Municipal de Saneamento (Sesan), Belém produz diariamente aproximadamente 1.200 toneladas de resíduos domiciliares e entulho. Deste total recolhido pela prefeitura, o principal componente é matéria orgânica, correspondendo a 58% do volume.
Papel, papelão, plásticos, metais e vidros compõem, cerca de, 36% do volume diário de resíduos na cidade, o que representa 432 toneladas/dia. Menos de 5% deste total é recolhido e reaproveitado por cooperativa de catadores, já que eles são descartados pela população de forma irregular e muitas vezes jogados nos canais da cidade.
Presente com material reciclável
Brinquedos produzidos com materiais recicláveis também são opções para presentear. Além, é claro, de ajudar o meio ambiente e criar consciência ambiental para quem recebe o presente.
O vigilante Josiel da Silva começou há cerca de um ano, por hobby, a produzir diversos objetos com pneus que recolhia pela rua. “Eu comecei fazendo só para a minha casa, os puffs, e brinquedos para minha filha. Eu olhava na internet e ficava tentando fazer. Depois, minha cunhada viu e também quis para a casa dela e em seguida uma amiga já foi visitá-la e gostou também. E assim foi aumentando a criação. Hoje já confecciono além dos puffs, gangorras, mesas e bancos, balanço e outros objetos”.
Ele conta que o que começou a ser feito por diversão, hoje ajuda no sustento da família. “Eu pego minha bicicleta e vou pelas ruas vendendo. Consigo tirar até 3 mil reais por mês. E, nessa época, do Natal aumentou a procura por pessoas que querem presentear parentes e amigos”.
Josiel afirma, também, que a valorização do trabalho artesanal ainda é bem pequena. “Eu já me deparei com pessoas que não deram valor ao meu trabalho e falaram que as peças eram apenas pneus velhos recolhidos na rua. Mas tem outras pessoas que dão muito valor e isso me dá força para continuar”.
Educação ambiental na escola e em espaço público
A equipe de Educação Ambiental da Semma realiza trabalho com crianças em escolas públicas, comunidades e também na praça Milton Trindade [Horto Municipal]. Durante as programações, os participantes aprendem a produzir bolsas, vasos, brinquedos com garrafa pet, rolo de papel higiênico, caixa de leite e enfeites natalinos.
Os interessados em realizar as oficinas educativas em qualquer espaço público, podem procurar a Semma e solicitar as atividades por meio de ofício. Outras informações podem ser obtidas pelo telefone: 3039-8100.
Texto: Ana Paula Azevedo
Foto: Adriano Magalhães
Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SEMMA)
