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Servidores municipais debatem ações antirracistas na Primeira Infância em Belém

Com o lema “O pleno desenvolvimento da criança só é possível com uma infância sem racismo”, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), em parceria com a Prefeitura de Belém, apresentou nesta segunda-feira, 5, o projeto Primeira Infância Antirracista. A apresentação foi feita para servidores municipais de educação, saúde e assistência social.

Durante a abertura, a especialista em Comunicação do Unicef, Ida Pietricovsky de Oliveira, afirmou aos servidores que a fase de seis meses a seis anos de idade é uma janela de oportunidades para o  desenvolvimento integral e é onde se deve fortalecer as políticas públicas antirracistas, no contexto da criança negra e indígena.

“Apesar dos avanços, a cor e o lugar onde as crianças nascem ainda é o que determina a sua sobrevivência e seu pleno desenvolvimento”, disse Ida ao citar o marco da Primeira Infância, lei 13.257 de 2016.

Gestão antirracista

O vice-prefeito de Belém, Edilson Moura, enfatizou que o que define uma sociedade democrática são as oportunidades. “A gestão municipal é antirracista, não só nos gestos, mas no desenvolvimento de politicas públicas. A gente só vai construir uma sociedade fraterna, feliz, igualitária, melhor, quando as pessoas tiverem oportunidades, não pela cor da pele ou origem de nascimento, mas quando tiverem oportunidade pela sua competência e capacidade”, declarou Edilson Moura, sobre o mito da meritocracia diante de uma sociedade desigual em que vivemos.

Durante a palestra Caminhos para Primeira Infância em Belém, foram destacados alguns dados estatísticos e posturas de enfrentamento com relação à educação de crianças negras e indígenas, que ainda frequentam menos a pré-escola, por exemplo.

A ideia de supremacia enraizada na branquitude e que distancia o negro e o indígena de políticas públicas, deixando-os no mapa da violência, foi outro ponto colocado aos servidores. A formação foi conduzida por Maira Souza, do Unicef, e Luciano Ramos, escritor e pesquisador.

Dados

No Brasil, de acordo com o Unicef, as desigualdades mostram que 91,9% das crianças negras, pardas e indígenas frequentam menos a pré-escola e 71,7% dos alunos que se evadem das escolas são negros.

Maira Souza destacou outro dado cruel, apresentado pelo Unicef:  o de que as crianças negras e indígenas sofrem racismo pela primeira vez nos primeiros anos de vida e isso resulta no estresse tóxico que afeta a aprendizagem, o comportamento e a saúde, paro o resto da vida.

O pacto narcísico da branquitude que fortalece a supremacia branca e a ideia de mérito foi reavaliado por Luciano Ramos. “É importante fazer uma autocrítica e entender o lugar de fala. A gente só vai conseguir produzir uma infância sem racismo quando as pessoas brancas entenderem quais são os seus lugares e começarem a desenvolver a sua prática a partir do entendimento desses lugares”.

Educação Antirracista

A professora Sinara Dias, da Coordenação de Educação para Relações Étnico-raciais (Coderer), e o professor Wender Tembé, da Coordenação de Educação Escola Para Indígenas, Imigrantes e Refugiados (Ceiir), ambas criadas em 2021 pelo Prefeitura de Belém, trouxeram suas vivências e práticas na rede municipal.

Sinara apresentou a Cartilha Marielle, lançada recentemente para o enfrentamento ao racismo nas escolas municipais. “Todos os educadores (professores e quadro administrativos) têm responsabilidade nessa construção da educação antirracista. É emocionante falar da cartilha Marielle como uma possibilidade de trabalho na educação antirracista na rede municipal, com proposições de debate acerca do racismo estrutural, religioso, e todas as formas de racismo”, revelou a professora sobre alguns avanços.

O encontro contou com a participação de professores de escolas de Educação do Campo que já realizam pequenas ações antirracistas. A professora Amanda Ferreira, EMEC Madalena Travassos, localizada em Mosqueiro, busca, na contação de história, debater o tema com as crianças do Jardim II e revela: “Tivemos uma situação que é muito comum na escola em relação à cor da pele. Sempre que nós íamos fazer uma atividade, eles (estudantes) perguntavam ‘tia, cadê o lápis cor de pele?’ Então, começamos a trabalhar a observação das cores e os motivamos a identificar a sua cor de pele e, aos poucos, foram se identificando como negros e a se respeitar e respeitar o coleguinha”.

A professora Tamires Trindade, da EMEC Milton Monte, da ilha do Combu, estava feliz com a formação. “Achei importante, porque eu me vejo em algumas situações. As crianças desde a infância precisam ter essa vivência, porque é uma questão de identidade. A nossa escola atende alunos quilombolas e é para eles se olharem como pessoas importantes também”.

A coordenadora Antirracista de Belém (Coant), Elza Fátima Rodrigues, e Sandra Valente, da Fundação João Paulo XXIII (Funpapa), estiveram presentes à formação, compartilhando o trabalho desenvolvido em suas pautas.

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